Influência chinesa transforma indústria automotiva no Brasil

Conheça como a entrada de empresas chinesas está redesenhando o setor automotivo brasileiro.
10/11/2025 às 06:42 | Atualizado há 2 horas
               
Geely na Renault
Chineses transformam indústria automotiva, impulsionando novas alianças globais. (Imagem/Reprodução: Investnews)

A entrada da Geely na operação da Renault no Brasil representa uma mudança importante para o setor automotivo nacional. Essa parceria, que envolve a produção de motores híbridos e elétricos, demonstra a crescente atuação das empresas chinesas no mercado brasileiro, especialmente na produção local e na expansão tecnológica.

O Brasil tem se destacado como um mercado estratégico para as montadoras chinesas, graças à sua estrutura regulatória menos rígida e tarifas competitivas, que facilitam investimentos e a montagem de veículos. Grandes investimentos chineses têm sido direcionados para fábricas e desenvolvimento de tecnologias híbridas, acelerando a transformação do setor.

Embora o avanço traga dinamismo e novas oportunidades de emprego, o país ainda mantém certa dependência tecnológica das empresas chinesas. A transição para veículos elétricos será gradual, com a hibridização sendo uma etapa intermediária, diante dos desafios econômicos e estruturais enfrentados pelo mercado brasileiro atual.
A entrada da Geely na Renault do Brasil marca uma transformação significativa na indústria automotiva brasileira. A aquisição de 26,4% da operação pela Geely evidencia a crescente influência chinesa no setor, além de expor os desafios enfrentados pelas montadoras tradicionais diante da acirrada concorrência e do interesse estratégico da China no mercado local.

A parceria entre a Geely na Renault cria uma nova entidade, a Renault-Geely do Brasil. Essa colaboração visa a produção de motores híbridos e elétricos no Complexo Ayrton Senna, em São José dos Pinhais. Adicionalmente, a rede de 250 concessionárias da Renault será aberta para a comercialização de veículos de ambas as marcas.

Este acordo é um exemplo claro de como o cenário automotivo brasileiro e mundial está se reconfigurando. Em vez de resistir à influência chinesa, algumas montadoras e governos estão optando por integrá-la. A China, antes vista como um competidor periférico, agora se posiciona como um parceiro essencial, detentora da escala e da tecnologia que faltam aos fabricantes ocidentais.

O Brasil se tornou um terreno fértil para esse avanço nos últimos anos. A ausência de barreiras comerciais robustas, em comparação com a Europa e os Estados Unidos, combinada à necessidade de expansão das montadoras chinesas, fez do mercado nacional um alvo estratégico. Além disso, a existência de fábricas parcialmente ociosas, como as antigas instalações da Ford e da Mercedes-Benz, agora sob o controle das chinesas BYD e GWM, contribui para esse cenário.

Segundo Cassio Pagliarini, consultor da Bright Consulting, essa transformação é resultado de uma estrutura regulatória mais branda e da falta de alternativas competitivas. Ele observa que as tarifas moderadas permitiram que o capital chinês ocupasse o espaço deixado por outros investidores.

As tarifas brasileiras, de 35%, são consideradas viáveis em comparação com as dos Estados Unidos (100% a 150%) e da Europa (a partir de 38%). Além disso, a tarifa para trazer kits CKD (conjuntos de partes e peças desmontadas) da China para montagem local é de apenas 16%, tornando o processo financeiramente atrativo.

Essa situação tornou o Brasil um destino importante para os carros elétricos fabricados na China, que busca novos mercados para escoar sua produção, já que o mercado interno chinês parece estar saturado. No entanto, as empresas chinesas têm planos de longo prazo para o Brasil e têm investido continuamente nos últimos anos.

Dados do Conselho Econômico Brasil-China mostram que, em 2024, as empresas chinesas destinaram US$ 575 milhões para a fabricação de carros no Brasil. Esse montante coloca o setor automotivo como o terceiro mais investido por chineses no país, atrás apenas de energia elétrica (US$ 1,43 bilhão) e petróleo (US$ 1 bilhão).

Os investimentos prometidos por BYD, Great Wall Motors (GWM), Leapmotor, Omoda/Jaecoo e GAC Motors já ultrapassam os R$ 20 bilhões. A parceria recente da Geely na Renault soma-se a esses números, consolidando a presença chinesa em todos os elos da cadeia automotiva, desde o powertrain até as baterias.

Cassio Pagliarini ressalta que a China deixou de ser um país que copia modelos existentes. A China se tornou uma potência inovadora e tecnológica. Ele resume que a opção é ceder ou se associar às empresas chinesas, e a maioria está buscando essa associação.

Essa tendência de cooperação entre fabricantes não se limita apenas aos casos de empresas ocidentais com chinesas. A General Motors, dos EUA, e a Hyundai, da Coreia, anunciaram o desenvolvimento conjunto de cinco veículos elétricos e híbridos, com o objetivo de reduzir custos e acelerar o desenvolvimento frente à pressão das montadoras chinesas.

O avanço das montadoras chinesas redefine a posição do Brasil na cadeia global. Embora o país ganhe fábricas e empregos, a autonomia tecnológica permanece limitada. O domínio chinês sobre baterias e semicondutores consolida uma dependência estrutural, com o Brasil fornecendo mercado e base de produção, enquanto a China oferece tecnologia e capital.

A transição para veículos elétricos e híbridos no Brasil não será imediata. A hibridização deve ser o caminho dominante nos próximos anos, devido a fatores econômicos e de infraestrutura. Cassio Pagliarini explica que o elétrico puro ainda enfrenta o alto custo das baterias importadas e a falta de uma rede de recarga adequada.

O resultado é um setor automotivo mais dinâmico, mas também mais dependente. As fábricas voltaram a produzir, porém sob o controle de parceiros estrangeiros, e a tecnologia, embora avançada, permanece ancorada na China. O Brasil, com sua tradição de acolher capital externo, integra-se a esse novo cenário.

Via InvestNews

Artigos colaborativos escritos por redatores e editores do portal Vitória Agora.