Investimentos em adaptação climática oferecem retornos financeiros positivos

Descubra como investimentos em adaptação climática podem gerar retornos até 10 vezes maiores, segundo o WRI.
03/06/2025 às 14:54 | Atualizado há 4 dias
Adaptação climática econômica
Investir em adaptação climática pode trazer retornos de até 10 vezes, segundo o WRI. (Imagem/Reprodução: Exame)

Em um cenário de crescentes riscos climáticos e limitações financeiras, um estudo recente do World Resources Institute (WRI), divulgado na terça-feira, 3, destaca a importância da adaptação climática econômica. O investimento nessa área pode render mais de US$ 10 em benefícios para cada dólar aplicado ao longo de dez anos. Em contrapartida, a falta de ação pode resultar em danos financeiros significativos, com desastres climáticos acumulando mais de R$ 21 trilhões em perdas desde 2000 e causando efeitos negativos de até 22% sobre o PIB, segundo o Boston Consulting Group (BCG).

A análise abrangeu 320 investimentos em 12 países, totalizando US$ 133 bilhões, e projetou um retorno potencial de mais de US$ 1,4 trilhão, com um retorno médio de 27%. O conceito de adaptação climática econômica envolve diversas ações concretas destinadas a mitigar os impactos já esperados da crise climática. Essas ações incluem melhorias na infraestrutura urbana, como a construção de diques, sistemas de drenagem e edificações que resguardem do calor extremo.

O setor da saúde, em especial, demonstrou retornos que superam 78%. Isso se deve principalmente aos benefícios associados à proteção de vidas contra problemas climáticos, incluindo estresse térmico e doenças transmitidas por mosquitos, como malária e dengue. Também se destacam os investimentos em gestão de riscos de desastres, como os sistemas de alerta precoce, que têm mostrado eficácia em preservar vidas e infraestrutura.

A pesquisa considera o conceito de “triplo dividendo da resiliência”, que abrange: perdas evitadas devido a desastres climáticos, ganho econômico associado (geração de empregos e aumento da produtividade agrícola) e benefícios sociais e ambientais, como melhorias nos sistemas de saúde e na biodiversidade. Mais de 50% dos benefícios identificados ocorrem, inclusive, na ausência de desastres, alertou Carter Brandon, pesquisador sênior do WRI. Os projetos de adaptação oferecem retornos diários por meio da criação de empregos e fortalecimento das economias locais.

As infraestruturas resilientes a eventos extremos mantêm seu valor ao longo do tempo. Sistemas de irrigação garantem colheitas diversificadas, enquanto centros de evacuação podem atuar como espaços comunitários. Soluções naturais, como a proteção de bacias hidrográficas, frequentemente proporcionam benefícios ecológicos e recreativos adicionais.

Outro ponto importante é que cerca de metade dos investimentos analisados também contribui para a redução das emissões de gases de efeito estufa, revelando a interconexão entre adaptação e mitigação climática. Essa relação acontece em áreas como energia, florestas, transporte e agricultura, geralmente através de soluções baseadas na natureza.

O WRI apresenta quatro casos de sucesso em vários países. Um exemplo é Fortaleza, no Brasil, onde um projeto de urbanismo sustentável focado em resiliência a inundações conseguiu duplicar seu retorno. A China, com um projeto de desenvolvimento rural em Yichang, obteve um retorno quase duas vezes maior que o valor investido. O Quênia, por sua vez, implementou um projeto que fortaleceu sistemas de saúde, alcançando três vezes o retorno do investimento. Na África do Sul, um programa de gerenciamento de rios em Durban garantiu um retorno seis vezes maior que o custo inicial.

Com a COP30 marcada para este ano em Belém do Pará, esses achados ressaltam a necessidade urgente de financiamento para medidas de adaptação climática, especialmente em países que enfrentam mais vulnerabilidades. Dan Ioschpe, representante climático da COP30, destacou que as evidências trazem um argumento econômico forte por ações efetivas. Sam Mugume Koojo, da Coalizão de Ministros das Finanças para Ação Climática de Uganda, ressaltou que a resiliência deve ser encarada como uma verdadeira oportunidade de desenvolvimento.

O WRI finaliza com três recomendações para formuladores de políticas: tratar a adaptação como um motor econômico, integrar a resiliência nas estratégias nacionais de desenvolvimento e adotar metodologias padronizadas de medição e relatórios.

Via Exame

Artigos colaborativos escritos por redatores e editores do portal Vitória Agora.