O **Produto Interno Bruto (PIB)** apresentou um crescimento que, segundo Samuel Pessôa do Ibre/FGV e Julius Baer Family Office, não deve interromper a trajetória de **desaceleração econômica brasileira**. Ele observa que a demanda interna não superou o PIB, indicando uma leve retração em um cenário de capacidade excedente na economia.
As medidas governamentais, como a liberação de recursos do FGTS, novas regras para o crédito consignado privado e o programa Minha Casa Minha Vida, visam estimular a economia, mas são atenuadas pelos altos juros. Essa combinação de estímulos e restrições cria um regime de política econômica complexo. O crescimento do PIB em torno de 2% ocorre em um contexto de fragilidade fiscal e pressão nas políticas parafiscais e de crédito.
A elevação das alíquotas do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) também gera um efeito ambíguo. Apesar de encarecer o crédito para as empresas, de forma semelhante à Selic, o impacto se concentra em operações de menor duração, como capital de giro, elevando os custos operacionais e pressionando a inflação. Esse efeito pode contrabalançar parcialmente a política monetária, com um impacto estimado entre 0,25 e 0,5 ponto percentual na Selic.
Para os próximos trimestres, Pessôa sinaliza que, apesar do resultado positivo do PIB, a **desaceleração econômica brasileira** já observada no quarto trimestre deve persistir. Ao analisar a demanda interna, é crucial descontar a importação de uma plataforma de petróleo, revelando um crescimento mais moderado. A economia deve operar sem pressionar a base de recursos, mantendo um crescimento anual em torno de 2%, com uma **desaceleração econômica brasileira** contínua.
As iniciativas como a liberação de recursos do FGTS e o novo crédito consignado privado podem impulsionar o crescimento, assim como possíveis mudanças na tabela do Imposto de Renda e o aumento de recursos para programas sociais. No entanto, o patamar elevado dos juros acaba neutralizando esses estímulos, criando uma dinâmica de “pé no acelerador” e “pé no freio”.
O aumento do IOF, ao onerar o custo do crédito, teoricamente auxilia a política monetária, atuando como um substituto da Selic. Contudo, ao incidir sobre empréstimos de curto prazo, impacta o capital de giro e eleva os custos operacionais das empresas, gerando um choque negativo de oferta que pressiona a inflação.
A harmonia entre a política fiscal e a política monetária tem sido um desafio recente. Embora a política fiscal tenha se mostrado contracionista no primeiro semestre, outras medidas, como o crédito consignado, podem ser consideradas inoportunas em um cenário de plena carga e combate à inflação.
A falta de consenso político em relação ao equilíbrio fiscal é um obstáculo. A política de valorização do salário mínimo, por exemplo, é incompatível com o equilíbrio fiscal, e a ausência de mudanças nos indexadores dos gastos mínimos de saúde e educação dificulta o ajuste.
Para destravar essa agenda, seria necessário que o governo federal liderasse um movimento para acabar com a indexação e limitar o aumento do salário mínimo à inflação passada. Isso abriria espaço para negociações no Congresso, visando a redução de emendas e do gasto tributário.
Diante da dificuldade em implementar essas medidas, o cenário aponta para um processo de ajuste fiscal após as próximas eleições. Caso contrário, o país poderá enfrentar uma crise fiscal, com paralisação da máquina pública, aumento da dívida pública, elevação do prêmio de risco, desvalorização cambial e estagflação.
Essa situação guarda semelhanças com o período entre 2013 e 2014, quando a economia operava em pleno emprego, a inflação de serviços pressionava, o déficit público crescia e os salários aumentavam acima da produtividade do trabalho. Os desafios para o futuro próximo já estão bem definidos.
Via Exame