O Santander Brasil apresentou um resultado que ficou aquém das expectativas do mercado, com o lucro abaixo do esperado e a rentabilidade sobre o patrimônio líquido (ROE) registrando quedas trimestrais. Essa performance reflete um crescimento mais lento da carteira de crédito e uma qualidade dos ativos que não atingiu o nível desejado.
A reação inicial do mercado foi negativa, com as ações do Santander abrindo em baixa de 3%. Contudo, ao longo do dia, os papéis se estabilizaram, indicando que parte dessa performance já havia sido antecipada. Nos 30 dias anteriores à divulgação, as ações do banco já haviam caído 11%, um desempenho inferior ao de seus concorrentes, como Bradesco e Itaú, que também apresentaram quedas, mas menores.
No segundo trimestre, o Santander alcançou um ROE de 16% e um lucro líquido ajustado de R$ 3,66 bilhões. Esses números representam uma queda de 5% em relação ao trimestre anterior, embora mostrem um aumento de 10% na comparação com o mesmo período do ano passado. Apesar do aumento anual, o lucro ficou cerca de 3% abaixo do consenso do mercado.
Um analista destacou que a alíquota de impostos no período foi baixa, em torno de 10%. Ao analisar o lucro antes dos impostos (EBT), a diferença em relação às expectativas foi ainda maior, chegando a aproximadamente 7%. Essa dinâmica de crédito mais fraca já era esperada, mas a qualidade dos ativos apresentou uma deterioração que gerou preocupação, especialmente em um cenário de desaceleração econômica prevista para o segundo semestre.
A carteira de crédito do Santander teve uma retração de 1% no comparativo trimestral, justificada pelo efeito cambial da desvalorização do real. Sem considerar esse impacto, a carteira teria se mantido estável. Durante a teleconferência com analistas, o CFO Gustavo Alejo Viviani explicou que a queda foi mais acentuada no segmento de grandes empresas, com uma diminuição de 5,8% no trimestre e 13% ano a ano, influenciada pela variação cambial e pela menor demanda por risco sacado devido às discussões sobre o IOF.
Em contrapartida, o executivo destacou a evolução positiva nos cartões, na área financeira e nas PMEs. A carteira de varejo para pessoas físicas se manteve estável, com uma melhora na composição do mix de produtos mais rentáveis. Houve um crescimento expressivo de 81% no crédito pessoal com garantia de FGTS e investimentos, além da redução da exposição no crédito consignado público, INSS e no crédito pessoal sem garantia.
A diminuição no consignado INSS, observada nos últimos trimestres, está relacionada ao limite nas taxas de juros, que tornou a operação menos rentável, especialmente quando originada em canais que não são próprios do banco. Nos canais próprios do Santander, a oferta também diminuiu devido à exigência de validação por biometria dos consumidores, implementada pelo governo após fraudes no INSS, o que tornou o processo de concessão mais complexo.
Apesar dos desafios, o Santander mantém o interesse no produto, mas prioriza a rentabilidade, buscando alternativas para oferecer o crédito consignado de forma lucrativa, mesmo com o teto de juros estabelecido. A inadimplência apresentou uma leve melhora no trimestre, com o NPL de 15 a 90 dias caindo de 4,1% para 4%, e o NPL acima de 90 dias recuando de 3,3% para 3,1%.
Ainda que a inadimplência tenha apresentado alguma melhora, o mercado esperava um desempenho mais expressivo. A percepção é que a recuperação foi menor do que a antecipada, com indicativos de piora na inadimplência de curto prazo nos setores de agronegócio e PMEs. O aumento das provisões e o resultado negativo da tesouraria, que registrou um prejuízo de R$ 700 milhões, também foram destaques negativos no trimestre.
As provisões para devedores duvidosos aumentaram 10% em relação ao trimestre anterior e 21% na comparação anual, totalizando R$ 6,9 bilhões. Esse valor superou as estimativas do sellside. O CFO explicou que o aumento das provisões se deve a novas entradas de empresas em recuperação judicial e ajustes nas provisões devido a uma expectativa menor de recuperação de créditos. O banco também realizou o writeoff de ativos com baixa probabilidade de recuperação, o que exigiu provisões adicionais.
A combinação do aumento das provisões com o resultado da tesouraria explica, em grande parte, o lucro abaixo do esperado. No lado positivo, o Santander demonstrou uma melhora na eficiência, com as despesas com pessoal e administrativas apresentando queda no comparativo trimestral e aumento abaixo da inflação na comparação anual.
As despesas com pessoal diminuíram 4,9% no trimestre e aumentaram 1,8% ano a ano, enquanto as despesas administrativas recuaram 0,4% no trimestre e subiram 1,2% na comparação anual. Essa performance resultou em uma melhora no índice de eficiência da companhia, que atingiu 36,8%, o melhor indicador dos últimos três anos, em comparação com 37,2% no primeiro trimestre deste ano e 39% no segundo trimestre do ano passado.
O CEO Mario Leão afirmou que o banco buscará superar a inflação nas despesas de forma mais consistente, como já vem fazendo ao longo dos anos, mas com uma diferença ainda maior. Ele ressaltou que essa agenda de eficiência continuará nos próximos trimestres e se estenderá até 2026 e 2027, dependendo da conclusão de investimentos em automação e otimização de processos.
Durante a teleconferência com analistas, o CEO reiterou o objetivo de alcançar um ROE de 20%. Questionado sobre as estratégias para atingir essa meta, Leão reconheceu a importância da queda da Selic, mas enfatizou que o banco está trabalhando para não depender exclusivamente desse fator. Ele destacou a eficiência como uma das principais alavancas, além da possibilidade de evoluir nas receitas, trabalhando nas margens de crédito e no negócio de comissões.
Apesar de um trimestre com lucro abaixo do esperado, o Santander continua focado em suas estratégias de longo prazo, buscando otimizar a eficiência, melhorar a qualidade dos ativos e diversificar suas fontes de receita. O banco espera que as ações implementadas nos próximos trimestres contribuam para o alcance de suas metas e para a retomada de um crescimento mais consistente.
Via Brazil Journal