Um novo estudo, publicado na revista Current Biology, reavalia a Lucy capacidade de correr. A pesquisa, baseada em modelos computadorizados, indica que a famosa antepassada humana, um Australopithecus afarensis, provavelmente conseguia correr, mas a uma velocidade bem mais limitada do que a de humanos modernos.
Descoberta na Etiópia em 1974, Lucy é um dos fósseis de hominídeos mais completos já encontrados. Em 2016, uma análise sugeriu que ela morreu após uma queda de árvore. Análises posteriores, utilizando reconstruções virtuais de seus músculos, revelaram informações sobre sua altura (cerca de 1,10 metro) e peso (até 40 quilos).
O estudo recente focou nas simulações da musculatura das pernas de Lucy. Os pesquisadores usaram a área da superfície óssea e a estrutura muscular de macacos atuais como referência para estimar sua massa muscular. O software simulou milhões de movimentos, buscando a máxima velocidade com menor gasto energético.
As conclusões indicam uma velocidade máxima estimada de 18 km/h para Lucy, similar à de um porco em uma corrida de 400 metros. Essa velocidade é significativamente inferior à dos humanos modernos, que frequentemente ultrapassam 29 km/h, chegando a mais de 40 km/h em atletas de elite. Em uma corrida de 100 metros contra Usain Bolt, Lucy perderia por uma margem considerável (entre 50 e 80 metros).
A Lucy capacidade de correr, segundo os pesquisadores, era limitada. A falta de tendões de Aquiles longos e elásticos, e de fibras musculares mais curtas, presentes em humanos modernos, dificultavam sua capacidade de corrida. O tendão de Aquiles em humanos funciona como uma mola, otimizando a passada e a velocidade. Já o tendão em macacos é consideravelmente menor.
A pesquisa também destaca o habitat onde Lucy vivia: áreas com muitas árvores e vegetação. Nesses ambientes mais fechados, a necessidade de velocidade para caça era menor. As presas tendem a se esconder e a imobilidade funciona como estratégia de defesa, diminuindo a importância da corrida rápida.
A paleontóloga Denise Su, do Instituto de Origens Humanas, em Tempe, Arizona, reforça que a capacidade de correr longas distâncias é uma adaptação evolutiva que surgiu mais tarde. Para Lucy, outras estratégias, como escalar árvores, eram mais eficientes.
O Homo erectus, com proporções corporais mais próximas das humanas, surgiu cerca de 1,9 milhão de anos depois de Lucy. Este hominídeo era adaptado para corridas de longa distância em savanas abertas.
Em suma, o estudo fornece novos dados sobre a locomoção de Lucy, sugerindo que a Lucy capacidade de correr era mais limitada do que se pensava. A capacidade de corrida de longa distância em humanos é uma adaptação evolutiva posterior, associada a mudanças de habitat e estratégias de caça.
Via Folha de S.Paulo