No cenário dinâmico do mercado de ações, a LWSA (antiga Locaweb) enfrenta um período de incerteza, gerando debates entre investidores sobre seu futuro. Após um ciclo de crescimento acelerado durante a pandemia, a empresa agora busca reconquistar a confiança do mercado em meio a desafios de integração e rentabilidade. A discussão sobre a LWSA value trap ganha força, com analistas ponderando se a desvalorização representa uma oportunidade real ou um risco a ser evitado.
A trajetória das ações da LWSA reflete essa instabilidade. Apesar de uma valorização de 16% desde janeiro, os papéis permanecem próximos de suas mínimas históricas, contrastando com a queda de 90% em relação ao pico atingido em fevereiro de 2021. Essa correção expressiva é consequência de um otimismo inicial que impulsionou a empresa a realizar cerca de 20 aquisições entre 2020 e 2021, aproveitando múltiplos elevados para captações no mercado.
O montante captado pela LWSA, somando IPO e follow-ons, alcançou R$ 2,9 bilhões, impulsionando o valor da empresa na B3 para R$ 2,1 bilhões. Contudo, essa estratégia agressiva de expansão resultou em uma estrutura complexa, descrita por um gestor como uma “colcha de retalhos”. Apesar de ter triplicado de tamanho desde o IPO, a empresa viu suas margens serem pressionadas, com um crescimento aquém das expectativas nos últimos trimestres, ficando abaixo de 9%.
Essa desaceleração no crescimento é atribuída, em parte, à menor disposição das Pequenas e Médias Empresas (PMEs) em investir em novas tecnologias para seus e-commerces. Um gestor resume a situação afirmando que “a LWSA comprou muito e comprou mal”, citando a aquisição da Squid como um exemplo clássico de investimento caro e de difícil integração. Em outubro de 2021, a empresa pagou R$ 176 milhões pela Squid, uma startup que conecta empresas com influenciadores.
A aquisição da Squid não gerou os resultados esperados. Analistas e gestores apontam que o produto não se adequou bem à proposta da LWSA e às necessidades das PMEs que a empresa atende. Além do valor da aquisição, a LWSA investiu fortemente na plataforma e no pagamento de earnouts. Rafael Chamas, CEO da LWSA desde março, reconhece que o investimento total na Squid ultrapassou os R$ 300 milhões e que a empresa não “performou como esperávamos”.
No segundo trimestre, a LWSA terá pago R$ 1,3 bilhão em earnouts referentes às aquisições realizadas desde 2020, com um saldo remanescente de R$ 45 milhões a serem pagos até 2027. No caso específico da Squid, os earnouts atingiram R$ 270 milhões, 50% acima do valor pago pela empresa. Diante desse cenário, a Squid se tornou o principal foco do plano de reestruturação da LWSA, implementado nos últimos anos.
Em resposta aos desafios, a LWSA adotou uma nova abordagem, priorizando a integração das empresas adquiridas e a eficiência operacional em detrimento do crescimento a qualquer custo. Essa estratégia impactou as margens da área “BeOnline & SaaS”, o negócio mais consolidado da LWSA, que oferece serviços como hospedagem de sites e cloud. No primeiro trimestre, a margem bruta dessa vertical recuou 5,8 pontos percentuais, resultando em uma contração de 1 ponto na margem bruta total, atingindo 46,6%.
O mercado acompanha de perto o desempenho da LWSA, com especial atenção ao seu plano estratégico de cinco anos, que visa integrar as aquisições, aumentar a eficiência operacional e extrair valor do ecossistema já estabelecido. A estratégia também inclui a expansão de serviços financeiros, com contas digitais e soluções integradas aos softwares, e a incorporação de inteligência artificial para automação e geração de insights, com o objetivo de impulsionar a rentabilidade e a geração de caixa.
A análise sobre se a desvalorização da LWSA representa uma oportunidade de investimento ou uma armadilha de valor (LWSA value trap) continua a gerar debates. A empresa negocia a cerca de 12 vezes o lucro para os próximos 12 meses, um múltiplo inferior ao histórico da companhia, que já atingiu 171 vezes em 2021 e atualmente se encontra em 35 vezes. A comparação com a Totvs, que negocia a 25 vezes o lucro, intensifica a discussão sobre o real valor da LWSA no mercado.
Nesse contexto, o mercado especula sobre a possibilidade de uma Oferta Pública de Aquisição (OPA) da LWSA. A General Atlantic, detentora de 15% do capital da empresa, é vista como um potencial interessado. A atratividade da LWSA para investidores dependerá de sua capacidade de retomar um crescimento mais acelerado e demonstrar o valor de suas aquisições.
Em meio às especulações, o CEO Rafael Chamas nega a existência de discussões sobre uma OPA, mas reforça o compromisso da empresa em devolver capital aos acionistas por meio de programas de recompra de ações. A LWSA já implementou quatro programas de recompra e cumpriu 25% do último, injetando R$ 197 milhões nos acionistas, principalmente através da recompra e cancelamento de ações.
Via Brazil Journal