Localizada no interior do Brasil, uma vasta mina detém o potencial de mitigar a escassez de metais raros, componentes essenciais para a produção de veículos elétricos, turbinas eólicas e equipamentos de defesa. Inaugurada recentemente com o apoio de investidores dos EUA, essa mina se destaca como a única produtora significativa fora da Ásia de certos metais raros de difícil acesso.
Em um cenário global onde a China exerce controle sobre a maioria dos metais raros e restringe o fornecimento de materiais estratégicos, os EUA manifestam interesse em expandir as operações da mina brasileira. No entanto, a produção da mina já está comprometida com contratos de venda para a China.
A situação da mina brasileira expõe um descompasso no mercado de minerais cruciais para a economia e a tecnologia do futuro. O Ocidente enfrenta dificuldades em alcançar a China na mineração e no processamento de terras raras no Brasil, um conjunto de 17 elementos fundamentais para diversos setores industriais. A extração e a separação desses elementos são complexas, o que levou os EUA e outras nações a dependerem da China para essa atividade.
Para algumas terras raras no Brasil, a China é praticamente o único país com capacidade para realizar a separação e o processamento. A alta demanda por esses materiais está ligada à sua aplicação na fabricação de ímãs potentes, indispensáveis em veículos modernos, mísseis e drones. Embora as terras raras no Brasil, consideradas “leves”, respondam por grande parte desses ímãs, as chamadas terras raras pesadas são cruciais para manter a resistência dos ímãs em altas temperaturas.
Historicamente, as terras raras pesadas provêm de minas na China e em Mianmar, que exporta sua produção para a China devido à abundância de depósitos de argila ricos nesses elementos. Contudo, o Brasil também se destaca por possuir depósitos semelhantes.
Constantine Karayannopoulos, especialista em terras raras, destaca o potencial do Brasil como um divisor de águas no setor, mencionando que, após analisar centenas de projetos globalmente, ele considera o Brasil como o país com o melhor acesso a terras raras pesadas.
Em 2010, a China interrompeu as exportações de terras raras para o Japão, gerando preocupações sobre a dependência mundial desses minerais. Naquele mesmo ano, a Denham Capital, uma empresa de *private equity* de Boston, investiu na Serra Verde, um projeto de mineração no Brasil.
Após oito anos, a Serra Verde buscava compradores dispostos a firmar compromissos de compra. No entanto, a China era praticamente o único cliente em potencial, devido à escassez de capacidade de extração de terras raras pesadas fora do país asiático.
Após 14 anos e um investimento de US$ 150 milhões de investidores dos EUA e do Reino Unido, a mina Serra Verde foi inaugurada em Minaçu, Goiás. Toda a produção inicial da mina está destinada à China, conforme contratos preexistentes.
O CEO da Serra Verde, Thras Moraitis, informou que a maior parte da produção da empresa está comprometida com a China até 2027, mas a empresa espera ter capacidade para atender novos compradores em breve.
Outras empresas também enfrentam situações semelhantes. A MP Materials, com sede em Las Vegas e apoio do Pentágono, vende grande parte de sua produção de terras raras leves para a China. A empresa está gradualmente reduzindo as vendas para a China e expandindo sua capacidade de processamento nos EUA.
Iniciativas para separar terras raras pesadas estão em andamento em outros países, como França e Estônia. A Serra Verde planeja dobrar a oferta de terras raras pesadas fora da Ásia até 2027.
Desde que a China impôs restrições às suas terras raras no Brasil, governos e empresas têm demonstrado maior interesse na produção da Serra Verde. A China tem sido um modelo de sucesso no setor, tornando a competição um desafio significativo.
Via InfoMoney