A busca por aceitação e pertencimento tem levado crianças e adolescentes a caírem em armadilhas perigosas: as Panelas do Discord. Nesses grupos, que funcionam como servidores dentro da plataforma, jovens são expostos a crimes ao vivo, praticados diante de milhares de outros menores. A delegada Lisandréa Salvariego, do Núcleo de Observação e Análise Digital (Noad) da Polícia Civil de SP, alerta para a gravidade da situação.
Dentro dessas panelas, segundo a delegada, ocorrem crimes como incentivo à automutilação, cyberbullying, estupros virtuais e até tentativas de suicídio infantojuvenil. Os agentes do Noad se infiltram nesses espaços para entender, prevenir e investigar os crimes. Plataformas de jogos como Roblox e Minecraft são utilizadas para atrair menores para as Panelas do Discord, onde são chantageados ou enganados com promessas de poder.
A hierarquia nas Panelas do Discord é um dos fatores que atraem os jovens, que buscam aceitação e um senso de pertencimento. Dentro desses grupos, existem níveis hierárquicos, desde moderadores e usuários até administradores e “donos” da panela. Os líderes propõem desafios para que os novos membros possam ascender na hierarquia.
Crimes virtuais estão se tornando cada vez mais fáceis de serem cometidos, mas também de serem rastreados, pois a internet deixa rastros. O Discord, criado em 2015 com foco no público gamer, acabou se tornando palco para diversos crimes devido à falta de moderação e à sua natureza interativa. Ao contrário do que se pensa, esses crimes não estão escondidos na deep web, mas sim acessíveis em diversas redes sociais.
Roblox e Minecraft também são usados para atrair vítimas para as Panelas do Discord. Nesses jogos, criminosos criam jogos com o objetivo de cooptar crianças e adolescentes, utilizando técnicas de engenharia social para manipular as vítimas. A violência começa com conversas agradáveis e elogios, explorando os pontos frágeis da vítima até obterem fotos ou vídeos íntimos, que são utilizados para chantagem.
As vítimas nas Panelas do Discord são chantageadas de diversas formas, com os criminosos obtendo informações pessoais dos pais e locais de trabalho, aumentando o poder de coerção. Como forma de punição, as vítimas são induzidas a se automutilarem. Existem dois tipos de desafios nas Panelas do Discord: aqueles que visam ascender na hierarquia e os crimes contra a dignidade sexual, voltados principalmente para o público feminino.
Os criminosos geralmente são adolescentes ou jovens adultos, entre 18 e 19 anos, de todas as classes sociais. As vítimas são, em sua maioria, mulheres, que sofrem crimes contra a dignidade sexual. Em alguns casos, a vítima se torna agressora, perpetuando o ciclo de violência. Após o resgate, é fundamental que os pais procurem a delegacia para registrar os fatos e busquem apoio psicológico para a vítima.
Um dos desafios no combate a esses crimes é a sua natureza transfronteiriça, com criminosos atuando em diversos estados e até em outros países. No entanto, é importante ressaltar que não há anonimato na internet, e os criminosos podem ser rastreados. O crime de “estupro virtual” também é comum nas Panelas do Discord, onde a vítima é coagida a praticar atos sexuais sob ameaça, mesmo sem contato físico.
Para evitar que crianças e adolescentes se envolvam com as Panelas do Discord, a delegada Lisandréa Salvariego recomenda que os pais conversem com seus filhos e os conscientizem sobre os perigos do mundo digital. É fundamental que os pais se interessem pelo que seus filhos consomem na internet e que busquem um equilíbrio entre o mundo virtual e o mundo real, incentivando atividades ao ar livre e o contato com outras pessoas.
A regulamentação das plataformas pode auxiliar no combate a esses crimes, mas é preciso que as plataformas ajam de forma rápida e eficiente quando acionadas pelas autoridades. É necessário que haja canais de comunicação emergenciais que funcionem de forma padronizada e ágil, para que as vítimas possam ser salvas a tempo.
É crucial que os pais estejam atentos ao comportamento de seus filhos, como isolamento social, mudanças de comportamento e falas que indiquem desesperança. Caso a criança ou adolescente esteja em situação de vulnerabilidade, é importante que ele busque ajuda em um colega, que pode ser a ponte para que os pais tomem conhecimento da situação.
A segurança online é um desafio complexo que exige a colaboração de todos: pais, escolas, poder público e plataformas digitais. É preciso conscientizar os jovens sobre os perigos da internet e oferecer alternativas saudáveis para que eles possam encontrar aceitação e pertencimento fora do mundo virtual.
Via G1