A busca por soluções inovadoras para os desafios ambientais, de consumo de energia e de segurança da informação tem levado empresas a considerar a instalação de data centers no espaço. A ideia, que antes parecia ficção científica, ganha força com o aumento da demanda por processamento de dados e as dificuldades de encontrar locais adequados na Terra. A Lonestar Data Holdings, por exemplo, já testou com sucesso um pequeno data center na Lua, abrindo caminho para futuras instalações.
A crescente utilização da inteligência artificial (IA) impulsionou a necessidade de armazenagem e processamento de dados em escala global. A consultoria McKinsey prevê um aumento anual de 19% a 22% na demanda por data centers até 2030. Novas instalações surgem constantemente, mas a disponibilidade de espaço físico, o alto consumo de energia e água para resfriamento, e a resistência de moradores locais têm dificultado a expansão.
A instalação de data centers no espaço, seja em órbita terrestre ou na Lua, surge como uma alternativa para mitigar esses problemas. A energia solar, praticamente ilimitada no espaço, e a ausência de vizinhos que se incomodem com os impactos ambientais são atrativos consideráveis. Além disso, data centers no espaço podem oferecer serviços especializados para espaçonaves e outras instalações espaciais, com transferências de dados mais rápidas do que as realizadas na superfície terrestre.
Um estudo financiado pela Comissão Europeia, o relatório Ascend, produzido pela Thales Alenia Space, concluiu que a instalação de data centers no espaço seria “mais ecológica” e com potencial para transformar o cenário digital europeu. A Thales Alenia Space propõe a criação de uma constelação de 13 satélites, com dimensões de 200 m x 80 m e capacidade de processamento de 10 megawatts (MW), equivalente a um data center de médio porte na Terra.
Apesar do otimismo, Domenico Vicinanza, professor da Universidade Anglia Ruskin, no Reino Unido, aponta desafios significativos. O custo elevado de lançar hardware em órbita, a necessidade de infraestrutura para proteção, alimentação e resfriamento, e a dificuldade de resfriar equipamentos no espaço (já que os sistemas convencionais não funcionam bem sem gravidade) são obstáculos importantes. O clima espacial e o lixo espacial também representam riscos para os equipamentos.
Ainda assim, empresas como a Lonestar estão confiantes e planejam instalar um pequeno data center na órbita da Lua em 2027. A Starcloud, sediada em Washington, pretende lançar um data center em um satélite e iniciar operações comerciais em meados de 2026. Para Stephen Eisele, da Lonestar, as instalações espaciais oferecem mais segurança, pois os dados não precisam passar por redes terrestres e podem ser enviados diretamente do espaço para uma estação específica na Terra.
Chris Stott, CEO da Lonestar, destaca que os data centers no espaço podem ajudar organizações a cumprir regulamentações de soberania de dados, mantendo informações no país de origem. A empresa já possui clientes em lista de espera, incluindo o estado americano da Flórida e o governo da Ilha de Man.
O desenvolvimento de data centers no espaço representa uma abordagem para superar limitações terrestres, oferecendo soluções em segurança e soberania de dados. Apesar dos desafios técnicos e econômicos, o interesse e os investimentos na área apontam para um futuro no qual o espaço desempenhará um papel na infraestrutura global de tecnologia.
Via G1