A dez dias das negociações preparatórias da COP30 no Brasil, André Corrêa do Lago, presidente da Conferência, mostra-se cauteloso em relação a controvérsias internas. Em uma breve interação com jornalistas durante o The Exchange Summit no Rio de Janeiro, o diplomata reiterou o conceito de “mutirão”, enfatizando a necessidade de colaboração no enfrentamento das mudanças climáticas. Evitou, no entanto, apontar críticas mais incisivas ao projeto de lei sobre licenciamento ambiental.
A gestão do licenciamento ambiental foi considerada “um tópico interno complexo” por Corrêa do Lago ao responder a uma pergunta sobre a percepção internacional em relação ao Brasil como líder climático. Ele definiu a polêmica em questão como parte de um debate democrático legítimo, onde visões diferentes coexistem. Por outro lado, sua neutralidade contrasta com as pressões para que o país assuma um papel efetivo na descarbonização em nível global.
Esse dilema não é novo para Corrêa do Lago, que também enfrentou questionamentos sobre a exploração da Margem Equatorial amazônica durante o Diálogo de Petersberg. Essa situação reflete a dificuldade de equilibrar a agenda climática internacional com os interesses econômicos nacionais.
A estratégia que antecede a COP30 no Brasil, conhecida como “mutirão global”, visa ampliar a colaboração entre os diversos setores para transformar discussões climáticas em ações práticas. O termo, que se origina do guarani e significa trabalho coletivo, foi destacado pelo diplomata como sendo fundamental para restaurar a confiança na luta contra a mudança do clima, trabalhando em sintonia junto de todas as partes envolvidas.
Além disso, Corrêa do Lago abordou o “negacionismo econômico” como um dos principais obstáculos à transição energética do Brasil, um tema que pode influenciar a imagem do país como anfitrião da Cúpula do Clima. Ele sublinhou a urgência em comunicar melhor as vantagens econômicas de investimentos em sustentabilidade. Exemplos de sucesso na China, Europa, Estados Unidos e México foram citados, mostrando que a mudança verde pode resultar em empregos e crescimento econômico.
A relação entre os enviados especiais do Brasil e o Climate Champion da COP30, Dan Ioschpe, também foi discutida. Corrêa do Lago esclareceu que enquanto o Climate Champion se conecta com o setor privado globalmente, a função dos enviados especiais é abordar as divisões internas nas políticas climáticas brasileiras.
Recentemente, uma carta oficial da presidência da COP30 mencionou os combustíveis fósseis como responsáveis por mais de 75% das emissões de gases de efeito estufa. Em resposta a questionamentos sobre a transição energética, o embaixador reconheceu a resistência de alguns países desenvolvidos, que insistem que nações em desenvolvimento deveriam liderar esse processo.
Corrêa do Lago citou o Protocolo de Montreal como um exemplo positivo de ação global conjunta, embora reconheça que os desafios climáticos atuais envolvem uma gama mais ampla de setores e exigem mais recursos e tecnologia. Até 15 de junho, o Brasil deve apresentar sua agenda de ação na COP30, destacando indicadores da Meta Global de Adaptação e outros tópicos cruciais.
Tanto a atitude de Corrêa do Lago quanto os desafios enfrentados refletem a necessidade urgente de dar maior clareza e impacto nas comunicações sobre as iniciativas climáticas do Brasil. O êxito dessa presidência dependerá da capacidade de transformar discussões em ações concretas e de fortalecer a confiança na luta contra as mudanças climáticas.
Via Exame