Tarifas decretadas por Trump impactam empregos no refino de açúcar em São Paulo e na indústria do Sul

Tarifas de Trump sobre produtos brasileiros já provocam perdas de empregos na indústria do açúcar em SP e bens de capital no Sul.
04/11/2025 às 06:21 | Atualizado há 6 dias
               
Tarifaço de Trump
Tarifaço levou à perda de 15 mil vagas nas contratações de agosto e setembro, diz estudo. (Imagem/Reprodução: Infomoney)

As tarifas impostas por Trump sobre produtos brasileiros causaram impacto na geração de empregos, afetando principalmente o refino de açúcar em São Paulo e a indústria de bens de capital no Sul.

Um estudo do banco Inter revelou que cerca de 15 mil vagas foram perdidas em agosto e setembro, com o estado de São Paulo sofrendo mais de um quarto dessas perdas devido à forte concentração da indústria açucareira.

A redução nas exportações para os EUA afeta diretamente setores industriais, especialmente bens de capital, como aeronaves e máquinas, que tiveram queda significativa nas contratações, reafirmando a sensibilidade do comércio e emprego à política tarifária externa.
A implementação do Tarifaço de Trump sobre produtos importados do Brasil gerou extensos debates e análises sobre seus possíveis efeitos no país. Um estudo recente do banco digital Inter quantificou o impacto econômico dessa medida, identificando que o prejuízo é notadamente localizado e com reflexos diretos na geração de empregos em certas regiões.

O estudo conduzido por André Valerio, economista sênior do Inter, e Gustavo Menezes, assistente de pesquisa macroeconômica, revelou que o Tarifaço de Trump teve um impacto considerável nos padrões de contratação nos meses de agosto e setembro, resultando em uma diminuição de aproximadamente 15 mil postos de trabalho durante esse período.

O levantamento aponta que 30% das perdas de empregos concentraram-se na indústria de alimentos, especificamente no refino de açúcar. Essa atividade está tipicamente concentrada em São Paulo, estado que, segundo as estimativas, acumulou mais de um quarto de todos os empregos industriais perdidos até setembro.

Além disso, o estudo indicou uma diminuição nas contratações em outros estados e setores. A região Sul, que possui várias áreas dependentes de indústrias de bens de capital cuja produção é quase integralmente exportada para os EUA, sofreu uma perda estimada de cerca de 4.500 empregos.

Os autores do estudo ressaltaram que o Brasil foi o país mais impactado pelas tarifas anunciadas em julho. Mesmo com a subsequente isenção de vários produtos, que reduziu a alíquota efetiva para cerca de 31%, espera-se que o impacto seja assimétrico, afetando principalmente a indústria.

Os economistas enfatizaram que, embora o Brasil seja um exportador relevante de commodities agrícolas para os EUA, os bens industriais enfrentam maiores dificuldades de adaptação nas cadeias comerciais. Isso ocorre porque são menos homogêneos e não possuem preços padronizados no comércio internacional, como é o caso do café, petróleo e minério.

Utilizando dados detalhados da balança comercial, o estudo identificou que o Tarifaço de Trump já afetou as principais pautas de exportação aos EUA relacionadas a bens de capital. Setores como aeronaves, motores e máquinas elétricas registraram uma contração de mais de 30% em agosto e setembro, em comparação com o mesmo período do ano anterior.

Para avaliar a transmissão dos impactos comerciais na atividade econômica, o estudo analisou dados regionais. A conclusão é que, das 131 regiões intermediárias com exposição à exportação de bens manufaturados para os EUA, apenas 28 mantiveram variação interanual positiva em julho, enquanto o número de regiões com forte queda aumentou para 63.

Os autores destacaram que os impactos de uma quebra estrutural no comércio tendem a ser altamente localizados. Ao analisar a relação entre exportações industriais e o PIB da indústria de transformação, o estudo encontrou uma ampla dispersão nos níveis de exposição comercial entre as regiões intermediárias.

Para detalhar o impacto do Tarifaço de Trump na geração de empregos, os técnicos do Inter combinaram dados de comércio exterior com microdados do Caged. Essa análise permitiu estimar os impactos da dependência comercial aos EUA na criação de vagas para a indústria de transformação.

Em relação às perdas de emprego na indústria de refino de açúcar em São Paulo, os autores do estudo sugerem que parte desse resultado decorre de uma frustração no aumento sazonal das contratações de agosto. A reação do setor nos próximos meses à queda nas exportações de açúcar do Brasil para os EUA ainda é incerta.

Segundo os autores, o estudo reforça a expectativa inicial de que o impacto agregado do Tarifaço de Trump seria limitado devido à baixa abertura comercial da economia brasileira e à dependência relativamente baixa das exportações brasileiras em relação aos EUA.

Embora o impacto agregado possa ser limitado, o estudo aponta que a indústria foi significativamente afetada, conforme esperado. Com a retomada do diálogo entre os governos, espera-se que esses danos sejam minimizados, embora não se possa descartar efeitos prolongados devido à inércia inerente às relações econômicas.

Via InfoMoney

Artigos colaborativos escritos por redatores e editores do portal Vitória Agora.