O cenário de tarifas de etanol dos EUA apresenta um dilema complexo para o Brasil, o maior país da América Latina. Embora as tarifas impostas pelo governo americano possam parecer prejudiciais, a alternativa de reduzir o imposto brasileiro sobre o etanol importado dos EUA poderia ter um impacto ainda mais negativo na indústria nacional. Essa medida abriria as portas para a entrada massiva do produto americano, ameaçando a competitividade do etanol brasileiro, especialmente na região Nordeste.
O Brasil exportou aproximadamente 300 milhões de litros de etanol para os EUA no ano anterior, um volume impulsionado por incentivos de combustíveis de baixo carbono na Califórnia. No entanto, esse montante representa uma pequena parcela do mercado interno brasileiro, onde carros flex-fuel utilizam tanto etanol puro quanto misturas de etanol e gasolina. A preocupação central reside no potencial desequilíbrio que a isenção de tarifas de etanol dos EUA poderia causar no mercado nacional.
Edmundo Barbosa, presidente do grupo de produtores Sindalcool-PB, alerta para o possível “desastre” que a entrada de etanol americano representaria. O Brasil tem expandido sua produção de etanol a partir do milho, visando atender à crescente demanda no Nordeste. Essa região seria o principal destino do etanol americano caso as tarifas fossem eliminadas, conforme aponta um relatório da consultoria Datagro.
A remoção das tarifas de etanol dos EUA poderia tornar mais barato abastecer o Nordeste com o produto importado do que transportá-lo do Centro-Sul, a principal região produtora do Brasil. Isso colocaria em risco uma parcela significativa do mercado nacional de etanol, estimado em 32 bilhões de litros. A medida ocorreria em um momento em que a demanda interna está em alta, impulsionada pela recomendação do governo de aumentar a mistura de etanol na gasolina para 30%.
Apesar da situação delicada em relação às tarifas de etanol dos EUA, as importações de etanol para o Nordeste têm diminuído nos últimos anos, tendência que deve se acentuar com a entrada em operação de novas usinas. A Inpasa Agroindustrial SA, por exemplo, está inaugurando sua primeira fábrica no Maranhão e planeja investir na Bahia em 2026. Outras empresas, como a cooperativa Pindorama, também anunciaram planos de expansão na região.
Guilherme Nolasco, presidente da associação industrial Unem, destaca que a isenção total de impostos de importação em ambos os países poderia prejudicar os pequenos produtores locais. Ele ressalta a importância do mercado brasileiro para o etanol, afirmando que “só existe um mercado no mundo que demanda etanol em grandes quantidades, e esse mercado é o Brasil”.
Via InfoMoney