Como a tensão no Irã pode impactar o mercado global de petróleo

Entenda como a situação no Irã pode afetar o comércio global de petróleo e suas consequências econômicas.
22/06/2025 às 13:16 | Atualizado há 6 dias
Estreito de Ormuz
Bloqueio do estreito de Ormuz pode impulsionar o preço do petróleo em 70%. (Imagem/Reprodução: Investnews)

Após os recentes ataques aéreos dos EUA contra instalações nucleares iranianas, o foco se volta para uma possível reação de Teerã: a interrupção do tráfego de petróleo no estratégico Estreito de Ormuz. Essa via marítima é crucial para a economia global, por onde passa cerca de 20% do fornecimento mundial de petróleo diariamente.

O Irã já ameaçou fechar o estreito em diversas ocasiões, mas pode optar por outras medidas menos extremas. O objetivo seria retaliar seus adversários sem prejudicar seus aliados, como a China, grande compradora de petróleo iraniano. Um fechamento total do Estreito de Ormuz teria consequências catastróficas.

O impacto de um fechamento do Estreito de Ormuz, mesmo que por poucos dias, causaria um choque no mercado global. Analistas do JPMorgan preveem que os preços do petróleo poderiam disparar até 70%, o que geraria inflação global e afetaria o crescimento econômico. Apesar do risco, o transporte de petróleo pela região segue estável.

Até o momento, as exportações iranianas têm aumentado, e o tráfego de petroleiros se mantém constante. No entanto, o ministério de navegação da Grécia já orientou seus armadores a revisar a utilização dessa rota marítima. A localização do Irã, em relação ao Estreito de Ormuz, oferece diversas opções de resposta.

Se o Irã decidir retaliar, o país pode optar por ações que vão desde o assédio a navios comerciais até ataques com drones, minas ou bombas. Essas ações poderiam tornar o estreito intransitável. Daniel Sternoff, pesquisador da Columbia University’s Center on Global Energy Policy, ressalta a variedade de opções disponíveis para o Irã.

O Irã pode escolher não realizar nenhuma ação que afete o fluxo de petróleo, como já aconteceu em outras situações. Teerã deve considerar o risco de retaliação contra sua própria infraestrutura de energia e o impacto de suas ações na China. Além disso, o Irã precisa avaliar possíveis sanções às suas exportações.

A escalada no assédio a navios é uma das opções para o Irã no Estreito de Ormuz. No passado, o Irã já forçou embarcações a entrar em águas territoriais iranianas e até as deteve. Segundo a Combined Maritime Forces, o assédio já é uma prática comum, e as tensões atuais aumentam os riscos.

Dependendo da agressividade iraniana, os navios podem precisar de comboios protegidos por marinhas ocidentais. Essa medida, embora ineficiente, não deve afetar o fornecimento global de petróleo se houver petroleiros suficientes. Outra tática que pode ser utilizada são as minas marítimas.

O uso de minas navais poderia afastar o tráfego do estreito. No entanto, o risco para os próprios navios iranianos pode reduzir a probabilidade dessa ação. Até o momento, o tráfego no Estreito de Ormuz segue relativamente normal, com cerca de 110 a 120 navios por dia, segundo a Bloomberg.

O Irã pode adotar estratégias similares às dos houthis no Mar Vermelho. Os houthis atacam navios comerciais com mísseis balísticos e drones, forçando-os a evitar o Canal de Suez. Diferentemente do Mar Vermelho, não há rotas alternativas ao Estreito de Ormuz, o que eleva o risco.

Caso o Irã ataque navios suficientes para gerar dissuasão, o impacto no fornecimento global de petróleo poderia ser significativo. As alternativas iranianas não se restringem ao Estreito de Ormuz, visto que os campos de petróleo de Basra, no Iraque, estão próximos à fronteira com o Irã.

Em 2019, a Arábia Saudita acusou o Irã de atacar a planta de Abqaiq, o que reduziu em cerca de 7% a oferta global de petróleo. Analistas avaliam que ataques diretos a instalações de produção de petróleo não interessam a nenhum dos lados, mas essa possibilidade não está descartada.

O cenário mais extremo seria o fechamento total e prolongado do Estreito de Ormuz. Não existem rotas marítimas alternativas para os cerca de 20 milhões de barris de petróleo e derivados que passam pela região diariamente. Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos têm capacidade de produção reserva, mas alternativas logísticas limitadas.

Apesar de ameaçar o bloqueio diversas vezes, o Irã nunca o concretizou, e não há certeza sobre sua capacidade militar para isso. O vice-presidente dos EUA, JD Vance, alertou que tal medida seria “suicida” para a economia iraniana. Ainda assim, a duração de qualquer interrupção será crucial.

As nações consumidoras mantêm estoques de, pelo menos, 5,8 bilhões de barris de petróleo e combustíveis, de acordo com dados da Bloomberg. O fluxo anual total de petróleo pelo Estreito de Ormuz é de cerca de 7,3 bilhões de barris. Esses dados indicam uma margem de segurança, mesmo no pior cenário.

As tensões geopolíticas no Oriente Médio permanecem elevadas, com potencial para desestabilizar o mercado global de petróleo. A situação no Estreito de Ormuz continua sendo um ponto crítico, exigindo monitoramento constante por parte de países e empresas do setor energético.

Via InvestNews

Artigos colaborativos escritos por redatores e editores do portal Vitória Agora.