A luta pelo legado artístico de Tarsila do Amaral é marcada por disputas familiares e comerciais difíceis. Hoje, quatro décadas após sua morte em 1973, a artista é amplamente reconhecida, alimentando um mercado que inclui desde roupas e vinhos até itens de decoração. O valor comercial de sua imagem, gerenciado pela empresa **Tarsila S.A.**, resulta em um faturamento crescente, evidenciado por um crescimento de 50% nos licenciamentos em um único ano.
A necessidade de administrar esses direitos trouxe à tona um embate judicial. A artista não deixou filhos, e a herança passou para seus irmãos, cujos descendentes, atualmente, totalizam 56. Um conflito central ocorreu em 2022, quando alguns herdeiros acusaram Tarsilinha, sobrinha-neta de Tarsila, de realizar transações comerciais por meio de uma empresa paralela chamada Manacá. As alegações incluem a formalização de contratos de forma clandestina, o que levantou suspeitas sobre possíveis receitas não compartilhadas.
Nas palavras do advogado de Tarsilinha, Arystóbulo Freitas, as acusações são infundadas. Ele assegura que a empresa Manacá era utilizada apenas para consultorias e atividades pessoais. Em meio ao tumulto e à disputa, a Justiça decidiu congelar os valores arrecadados pela exploração da obra, revertendo-os para uma conta judicial à espera da resolução do conflito familiar.
Outra faceta desse intricado cenário é a questão da autenticidade das obras. Em 2024, uma pintura atribuída à artista foi colocada à venda na SP-Arte por R$ 16 milhões, com alguns herdeiros argumentando que a obra seria falsa, gerando mais tensão entre os envolvidos. A empresa Tarsila S.A. afirma que todas as suas transações são respaldadas por laudos técnicos.
No entanto, a atual gestão da empresa mantém um foco em expansão, com novas parcerias em setores como vestuário e decoração. O objetivo é tornar a arte da pintora mais acessível ao público, permitindo que a obra de Tarsila chegue a diversas faixas de preço. Entre as iniciativas estão uma coleção de quebra-cabeças interativos e novos rótulos de vinhos que incorporam elementos das pinturas da artista.
Por fim, um novo capítulo se desenhou em junho de 2025, quando Tarsilinha convocou uma assembleia para reestruturar a empresa, conseguindo o apoio de 34 herdeiros. A medida pretende transferir a liderança a novos representantes, mas a legalidade desta decisão é contestada pelo grupo liderado por Paola Montenegro, que alerta sobre a falta de validade jurídica da assembleia registrada.
Enquanto isso, Tarsila do Amaral, que queria ser a “pintora do Brasil”, continua em evidência, mesclando arte e comércio em meio a um pesadelo jurídico familiar que ainda não encontrou um desfecho.
Via Exame