Em maio de 2024, as Enchentes no Rio Grande do Sul paralisaram o estado, afetando cidades, zonas rurais e cadeias produtivas. Um ano depois, os dados do Banco Central revelam um cenário de recuperação desigual: enquanto o PIB gaúcho cresceu 4,3% em 2024 (acima da média nacional de 3,5%), esse resultado foi impulsionado principalmente pelo agronegócio, que se recuperou após dois anos de seca. Sem a agropecuária, o avanço teria sido de apenas 2,7%, abaixo dos 3,8% registrados em outros estados.
A indústria foi a mais atingida no início da crise. Em maio de 2024, a produção industrial despencou 26,4%, com quedas brutais em setores como químicos (-59,2%) e automotivo (-37,3%). Apesar de uma recuperação parcial em junho (+35,7%), o ano fechou com crescimento de apenas 0,6% no setor — bem abaixo dos 3,9% do resto do país. Problemas logísticos e infraestrutura danificada ainda pesam sobre as fábricas.
No comércio, a resposta foi mais rápida. Supermercados registraram alta de 3,2% em maio, seguida por explosão nas vendas de móveis (+19,7%) e materiais de construção (+22,3%) em junho. O varejo ampliado, incluindo veículos, subiu 8,6% no ano, impulsionado pela reposição de bens perdidos nas enchentes. No entanto, essa demanda foi emergencial, não sustentável.
Os serviços foram os mais prejudicados e os que menos se recuperaram. Atividades turísticas caíram 31,1% em maio, e os serviços às famílias recuaram 19,8%. Mesmo em dezembro, esses setores operavam abaixo dos níveis pré-crise, com restaurantes, hotéis e lazer sofrendo com o fechamento prolongado do aeroporto de Porto Alegre e a redução no fluxo de pessoas.
No campo, as perdas foram localizadas. A soja teve queda de 16% na safra, mas a produção total de grãos cresceu 27,5% no ano, beneficiada pela comparação com 2023, quando houve estiagem. Trigo e milho também tiveram alta anual, embora produtores diretamente atingidos tenham enfrentado prejuízos significativos.
O mercado de trabalho refletiu a instabilidade. Entre maio e junho, o RS perdeu 23 mil empregos formais, enquanto o país criava 293 mil vagas. A retomada veio a partir de julho, mas em ritmo lento. Setores como serviços às famílias ainda empregam menos do que antes da tragédia.
Os números mostram que, mesmo com a agropecuária mascarando parte do impacto, as enchentes deixaram marcas profundas na economia gaúcha. A reconstrução continua — e os desafios, especialmente em indústria e serviços, ainda são grandes.
Via Exame