As alterações cerebrais resultantes da dependência de substâncias, jogos de azar e, crescentemente, das redes sociais, são temas já bastante explorados. No entanto, a compreensão de que essas mudanças não são a causa primária do problema, mas sim um reflexo de questões mais profundas, ainda não é totalmente absorvida. Segundo Gabor Maté, médico húngaro radicado no Canadá e especialista em neurociência do vício, a adição está intrinsecamente ligada a traumas profundos.
Para Maté, o vício em redes sociais, assim como outras formas de dependência, manifesta-se como um sintoma de um sofrimento emocional subjacente. Essa perspectiva desafia a visão comum que foca nas plataformas digitais como as principais vilãs, desviando a atenção das verdadeiras causas que levam ao comportamento aditivo.
A questão central é que o uso excessivo de redes sociais pode ser uma forma de automedicação, uma tentativa de aliviar dores emocionais não resolvidas. Indivíduos que sofreram traumas podem encontrar nas redes sociais um escape temporário, buscando validação, aceitação ou simplesmente uma distração dos seus problemas.
É crucial entender que o vício em redes sociais não surge do nada. Ele se desenvolve em um contexto de vulnerabilidade emocional, onde as plataformas digitais oferecem um refúgio aparentemente seguro. A busca incessante por likes e comentários, a comparação constante com os outros e a necessidade de manter uma imagem perfeita online podem agravar ainda mais o quadro.
O tratamento eficaz do vício em redes sociais deve, portanto, abordar as causas subjacentes do problema. Terapias que visam a resolução de traumas, o desenvolvimento de habilidades de enfrentamento e o fortalecimento da autoestima são essenciais para uma recuperação duradoura.
Além disso, é importante promover a conscientização sobre os riscos do uso excessivo de redes sociais e incentivar a busca por atividades que promovam o bem-estar emocional e a conexão social genuína. O apoio familiar e social também desempenha um papel fundamental no processo de recuperação.
A abordagem de Gabor Maté ressalta a importância de uma visão mais humana e compreensiva do vício, que leve em consideração a complexidade das experiências individuais e a influência dos traumas na saúde mental. Ao invés de demonizar as redes sociais, é preciso focar na promoção de um ambiente emocionalmente seguro e no desenvolvimento de recursos internos que permitam aos indivíduos lidar com seus sofrimentos de forma saudável.
A compreensão de que o vício em redes sociais é um sintoma, e não a causa, é um passo fundamental para a criação de estratégias de prevenção e tratamento mais eficazes. Ao abordar as causas subjacentes do problema, é possível oferecer aos indivíduos a oportunidade de construir uma vida mais plena e significativa, livre das amarras da dependência.