O aquecimento global tem demonstrado impactos significativos em diversas espécies ao redor do mundo, desde a perda de habitat dos ursos polares até as dificuldades de sobrevivência enfrentadas pelos elefantes em períodos de seca. Um estudo recente revelou que os crocodilos também estão entre os animais afetados, com mudanças em seu comportamento devido às alterações de temperatura.
A rotina dos crocodilos, que inclui banhos de sol e momentos de resfriamento na água, é crucial para a manutenção de sua temperatura corporal, já que são animais ectotérmicos, ou seja, dependem de fontes externas para regular o calor do corpo. Na Austrália, os crocodilos de água salgada (_Crocodylus porosus_) enfrentam desafios maiores para manter sua temperatura ideal.
Pesquisadores observaram um aumento na temperatura corporal desses répteis e, consequentemente, alterações em seu comportamento. Um estudo publicado na _Current Biology_ revelou que, ao longo de 15 anos, os crocodilos passaram mais tempo em seu limite térmico, o que afeta diretamente seu desempenho físico.
Quando a temperatura desses animais atinge 32°C, eles reduzem suas atividades de natação e mergulho para evitar o superaquecimento, comportamento semelhante ao de humanos que evitam atividades físicas em dias quentes. Entre 2008 e 2023, cientistas da Universidade de Queensland analisaram 203 crocodilos na Reserva Selvagem Steve Irwin, monitorando suas temperaturas corporais e tempo de submersão.
Os resultados mostraram um aumento de 0.55°C na temperatura corporal dos crocodilos. Dos animais estudados, 135 ultrapassaram os 32°C pelo menos uma vez, e um indivíduo permaneceu acima dessa temperatura por mais de um mês em 2021. As temperaturas mais altas foram associadas aos períodos de El Niño, que se tornam mais frequentes devido às mudanças climáticas.
Com o aquecimento global, os crocodilos exibiram mais comportamentos de resfriamento e passaram menos tempo submersos. Kaitlin Barham, principal autora do estudo, mencionou que crocodilos com sangue mais quente têm um metabolismo acelerado, o que reduz sua capacidade de prender a respiração.
De acordo com os pesquisadores, o aumento do clima quente pode diminuir a capacidade de caça dos crocodilos, mas são necessários mais estudos para compreender os impactos totais na vida e na saúde desses animais. O tempo gasto tentando reduzir a temperatura corporal é um tempo que não é gasto em atividades essenciais como viajar, reproduzir ou procurar comida.