O aquecimento global tem causado impactos significativos em diversas espécies ao redor do mundo, desde a perda de habitat dos ursos polares até os desafios de sobrevivência enfrentados pelos elefantes em períodos de seca. Um estudo recente revelou que os crocodilos também estão sofrendo com as mudanças climáticas, o que tem alterado seus comportamentos e rotinas.
Crocodilos, como a maioria dos répteis, são animais ectotérmicos, ou seja, dependem de fontes externas para regular sua temperatura corporal. Para os crocodilos, essa temperatura ideal deve se manter entre 28 e 32°C, o que influencia diretamente em seu metabolismo e comportamento.
Na Austrália, pesquisadores observaram que os crocodilos de água salgada (_Crocodylus porosus_) estão enfrentando dificuldades para manter sua temperatura corporal ideal devido ao aumento das temperaturas. Esse aumento tem provocado mudanças em seus hábitos, incluindo a redução do tempo gasto em atividades aquáticas como natação e mergulho, em uma tentativa de evitar o superaquecimento.
Um estudo publicado no jornal científico *Current Biology*, analisou o comportamento de 203 crocodilos de água salgada no Steve Irwin Wildlife Reserve, durante um período de 15 anos (2008-2023). Os pesquisadores implantaram pequenos dispositivos sob a pele dos animais para monitorar suas temperaturas corporais e rastreadores para registrar o tempo que passavam submersos.
Os resultados mostraram um aumento geral na temperatura corporal dos crocodilos, com muitos deles passando mais tempo no limite máximo de sua tolerância térmica (32°C). Quando atingem essa temperatura, os crocodilos diminuem sua atividade física para evitar o superaquecimento, o que pode afetar sua capacidade de caçar e se alimentar.
Kaitlin Barham, autora principal do estudo, explicou que o aumento da temperatura corporal acelera o metabolismo dos crocodilos, o que eleva o consumo de oxigênio. Isso faz com que eles não consigam prender a respiração por tanto tempo, necessitando de mais tempo para se recuperarem na superfície.
Os cientistas também notaram que as maiores temperaturas corporais dos crocodilos coincidiram com os períodos de *El Niño*, que estão se tornando mais frequentes devido às mudanças climáticas. Em condições mais quentes, os crocodilos exibiram mais comportamentos de resfriamento e passaram menos tempo na água.
Embora sejam necessários mais estudos para determinar o impacto total do aquecimento global na vida dos crocodilos, os pesquisadores estão preocupados que a redução da capacidade de caça desses animais possa afetar sua saúde e sobrevivência. Cada minuto que eles passam tentando se refrescar é um minuto a menos que dedicam à busca por alimento, reprodução e outras atividades essenciais.
As mudanças climáticas representam uma ameaça crescente para a vida selvagem em todo o mundo, e os crocodilos são apenas um exemplo de como o aquecimento global está alterando o comportamento e a ecologia das espécies. É fundamental que continuemos a monitorar esses impactos e a tomar medidas para mitigar as mudanças climáticas e proteger a biodiversidade do planeta.