Em regiões áridas, onde a escassez de água é uma realidade diária, a busca por alternativas inovadoras se torna essencial. No deserto do Atacama, no Chile, pesquisadores exploram o potencial da coleta de névoa como uma solução promissora para fornecer água potável a comunidades urbanas e rurais.
A névoa, conhecida localmente como camanchaca, é um fenômeno meteorológico comum na região, caracterizado pela suspensão de minúsculas gotículas de água na atmosfera. Cientistas têm se dedicado a desenvolver tecnologias eficientes para capturar essa umidade e transformá-la em um recurso hídrico viável.
Uma equipe de pesquisadores avaliou o potencial da coleta de névoa na cidade de Alto Hospicio, um município em rápido crescimento no deserto do Atacama. A área enfrenta desafios significativos no acesso à água potável devido à sua alta densidade populacional e condições climáticas extremamente secas, com precipitação média anual inferior a 1mm.
Os sistemas de coleta de névoa geralmente consistem em grandes telas de malha de polipropileno esticadas entre postes. Essas telas capturam as gotículas de água presentes na névoa, que então escorrem para um sistema de calhas e tanques de armazenamento. O processo é passivo, ou seja, não requer energia externa.
Em Alto Hospicio, os pesquisadores estimaram que a coleta de névoa poderia render entre 0,2 e 5 litros de água por metro quadrado por dia. O período de maior potencial de coleta ocorre nos meses de inverno e primavera, com picos de até 10 litros por metro quadrado por dia.
Embora a quantidade de água obtida por meio da coleta de névoa ainda não seja suficiente para suprir toda a demanda da cidade, ela pode aliviar o estresse hídrico e ser usada para irrigação de campos e jardins. A cidade de Alto Hospicio necessita de aproximadamente 300 mil litros de água por semana, e para atingir essa quantidade somente com a coleta de névoa, seria preciso instalar cerca de 17 mil metros quadrados de telas.
Com uma área de 110 metros quadrados de coletores de névoa, seria possível produzir cerca de 100 mil litros de água por ano. Essa quantidade poderia ser utilizada para irrigar jardins comunitários e até mesmo para a produção de alimentos em pequena escala, por meio de sistemas hidropônicos.
A coleta de névoa se apresenta como uma alternativa promissora para mitigar os efeitos das mudanças climáticas e da rápida urbanização, além de melhorar o acesso à água potável em áreas com escassez hídrica. Pesquisadores planejam expandir os estudos para avaliar a viabilidade da coleta de névoa em centros urbanos maiores.
Via TecMundo